terça-feira, 17 de julho de 2018

CONSOLANDO OS ENLUTADOS - MORTE NA FAMÍLIA - COMO DAR A NOTÍCIA PARA ADULTOS E CRIANÇAS?




1. INTRODUÇÃO: Deus não projetou o ser humano para morrer. Taí a razão do porque ninguém, em sã consciência, aceita a morte com naturalidade. Nem mesmo a morte de alguém em estado terminal ou bastante idoso/a deixa de ser muito dolorosa. Isso porque a morte nos violenta, independentemente do tipo da natureza de sua ocorrência. Ela é um grande inimigo que nos persegue em nosso viver. O grande amor de Deus fez com que, pela sua graça, Jesus pudesse confrontar o pecado e a morte. O Apóstolo Paulo pergunta: “Onde está, ó morte, atua vitória? (I Cor. 15:55) – a resposta é dada em seguida: “Graças a Deus que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo”. (1 Cor. 15:57) Para os crentes em Cristo Jesus, que vivem na perspectiva da fé, a morte é um grande paradoxo. Pois, se por um lado significa a separação temporária dos amigos e entes queridos, por outro, não deixa de ser uma promoção para estar eternamente ao lado de Cristo Jesus. Apesar da perspectiva de fé, a ausência de um ente querido, através da morte, deixa uma tremenda lacuna na vida daqueles que ficam. Esta lacuna só pode ser preenchida com a presença do nosso Consolador (Espírito Santo de Deus), que atua, dentre muitas maneiras, através da pessoas amigas, família e do fator tempo.


2. PERDAS ATÍPICAS:


 Por mais que pareça estranho este tópico, é bom salientar que, como diz o adágio popular: Um filho foi feito para sepultar os pais e nunca o pais para sepultarem os filhos. Pais (normais) que perderam um/a filho/a dizem que é uma dor quase insuportável, inexplicável, de difícil aceitação.

 Outra perda muito dolorosa é a perda de um cônjuge. Além do rompimento de laços, sonhos, projetos, história em comum, na morte de um cônjuge acontece o inverso do casamento. Biblicamente, no casamento marido e mulher se tornam uma só carne. Com o falecimento de um dos cônjuges é como se houvesse uma amputação. Geralmente a amputação é feita por um instrumento cortante. Isso quer dizer que o processo fere, sangra e causa muitas dores. Quem sofre a amputação tem de reaprender a viver sem a parte amputada. É um processo que exige paciência e determinação.

 Não podemos deixar de mencionar a perda de uma mãe ou de um pai para uma criança. É um momento muito difícil, desde o momento de comunicar o ocorrido, até o acompanhamento familiar, espiritual e, se for o caso, de um profissional (psicólogo/a), tendo em visto ao impacto causado na vida da criança. É normal um período de regressão de hábitos nas crianças, assim como a criança procurar chamar a atenção, chamando toda atenção para si e exigindo tudo que lhe der vontade. Cabe ao pai ou a mãe sobrevivente o equilíbrio e paciência para não deixar de dar atenção para a criança, nem de mimá-la de tal forma a prejudicar a sua formação.


3. O QUE É O LUTO: Luto é a tristeza oriunda das perdas. É um momento de avaliação daquilo que se perdeu; é o discernimento do vazio gerado pela perda de um ente querido; É o enterro do que deixou de existir. É a melancólica da descoberta de que algumas coisas não serão mais necessárias. No entanto, o luto é também a busca de nova esperança, busca de novos sonhos e planos para continuar a vida.


4. FASES DO LUTO: A Dra. Elizabeth Kübler-Ross,(Nascida em 1926 em Zurique (Suíça),Psiquiatra e pesquisadora que trabalhou muitos anos de sua vida com doentes terminais e listou os estágios da agonia) listou alguns estágios pelos quais o luto ocorre. Conhecê-los é muito importante, pois nos ajuda a identificarmos o estágio em que se encontra o visitado, dando o “tratamento” certo em cada situação.

A. CHOQUE: É o momento da notícia. A mente fica anestesiada, a garganta apertada. É o soco na boca do estômago. A seguir vem o choro incontido, o pranto catártico, o profundo grito de dor. Para alguns um momento de silencio mortal. O Entorpecimento é um anestésico natural. É uma reação do organismo. A pessoa se sente paralisada emocional e fisicamente. – NÃO PROIBAM AS PESSOAS DE CHORAREM, NEM DE EXTRAVASAREM SUAS DORES. – REMÉDIO, SÓ COM PRESCRIÇÃO MÉDICA E EM ÚLTIMO CASO. O MOMENTO NÃO É DE SERMÃO É DE ABRAÇO SILENCIOSO.


B. NEGAÇÃO: É a tentativa de reverter o irreversível. É a tentativa de dizer a si mesmo e ao mundo que nada aconteceu, que tudo não passou de um engano. No início é até natural, mas se não bem trabalhado, cria-se situações em que vemos muitos casos de Pais que mantém o quarto do filho intacto acreditando que ele um dia voltará, etc... HÁ UMA TRADIÇÃO AMERICANA E EUROPÉIA MUITO RICA EM MENSAGEM E SIGNIFICADO. O Sacerdote que dirige o ato fúnebre pede que familiares próximos lancem os primeiros punhados de terra sobre o féretro, no momento da devolução do corpo à terra. O ATO POR SI SÓ É UM MOMENTO DE REALIDADE, DE DESPEDIDO E DE UM ÚLTIMO ADEUS. Apesar de cruel, entende-se que isto significa uma autêntica ajuda ao coração consternado na superação da negação.

C. IRA: Passado os primeiros estágios, inicia-se a busca pelos culpados, as maquinações, as acusações, os processos judiciais. É um estágio de constante crise de raiva e indignação. ALGUMAS PERGUNTAS, AFIRMAÇÕES E SITUAÇÕES SÃO COMUNS NESTE ESTÁGIO:

 Onde Deus estava? – Marta: João 11:21 – Se o Senhor estivesse aqui o meu irmão não teria morrido!) O Salmo 23:4 nos diz que não estamos isento do vale da sombra da morte, mas o Senhor passa conosco este momento de dor.


 Eu poderia ter feito algo mais! Existem situações em que por mais que se faça tudo, a cobrança é inevitável. Portanto, deixar o coração ser tomado por rancores potencializa o sofrimento.

 Isto foi Injusto! Por que Ele/a? Por que eu? Por que agora? – É comum os que sofrem a perda de queridos questionarem a morte sob padrões humanos de justiça: Não é justo! Morrer tão jovem! Ou Ele era tão bom! Por que justamente Ele? Na verdade A MORTE NÃO É JUSTA, NEM INJUSTA. ELA SIMPLESMENTE É O QUE É. A VIDA NÃO É SEMPRE JUSTA, MAS É SEMPRE VIDA. UMA ETAPA DA VIDA TERMINOU PREMATURAMENTE, MAS TERMINOU.


 Jó expressou todo sentimento através de uma palavra de confiança: Nu saí do ventre de minha mãe, nu voltarei; O Senhor deu, o Senhor tomou; bendito seja o nome do Senhor. (Jó 1:21)


 CUIDADO: Estagnar neste estágio seria aceitar as frias algemas da mágoa e as cadeias tiranas do ressentimento para o resto da vida.

D. DEPRESSÃO:


Depressão é o sentimento universal do luto. É uma reação legítima da perda. Se bem trabalhada, ela representa um período de recomposição dos pensamentos que abruptamente entraram em desordem. É a tristeza para a vida. É tristeza com propósito. É o tempo de cura para a ferida que está fechando. É a lenta cicatrização da separação.

 Este Processo pode durar algumas semanas, mas se o processo estacionar você estará morrendo aos poucos.

 Chore o quanto quiser; Comente o quanto achar necessário. Verbalize a sua dor e a dor da alma vai se esvaindo.

 Não se isole. Peça ajuda sempre que precisar. As pessoas compreendem a sua dor.

 Evite, terminantemente, qualquer fuga. Você está susceptível aos vícios ou qualquer outro tipo de dependência.

 Cerque-se de vida. Animais domésticos, flores, plantas, crianças. Pequenas expressões de vida inspiram e ajudam a vencer o dia a dia.


E. ACEITAÇÃO:


 É a etapa em que alguém descobre que “É POSSÍVEL CONVIVER COM A PERDA. POSSO RETOMAR A VIDA.”


 É desmanchar o quarto daquele que se foi. É doar suas as roupas, se for o caso. SEM CONFLITO. SEM SE SENTIR INFIEL

F. REORIENTAÇÃO DA VIDA:


 É o retomar da vida, das atividades, dos ideais e dos projetos que ficaram paralisados com a morte do ente querido.


 Fica um vazio? SIM. Mas, o vazio não impede a continuidade.


 Esta fase tem seus cuidados, e pode haver recaídas.


 É normal que aconteça ciclos, alternância de sentimentos, mas com o tempo a tendência é a adaptação.


 Algumas datas festivas podem causar dores: (Dia das mães, Pais, Natal, ano novo, aniversário, etc...)


5. COMO DAR A NOTÍCIA PARA ADULTOS:


 Deve-se tomar cuidado com as pessoas com saúde frágil na hora de dar a notícia;


 Os adultos têm uma grande facilidade em perceber a notícia de morte somente pela chegada do anunciante, do telefonema fora de hora, do tratamento diferenciado de uma hora para outra, do calmante, etc... de forma que não se deve protelar a notícia, apesar do tato no anúncio.


 A notícia deve ser dada em um ambiente adequado e sem pressa, permitindo às pessoas o direito de extravasar suas emoções frente à má notícia.


 Um dos choque que a pessoa recebe na hora da má notícia e se deparar com a sua própria finitude.


 A morte deve ser declarada por uma pessoa investida da autoridade para fazê-lo – normalmente um médico, um sacerdote (Pastor, Padre, etc...), ou alguém da família.


 O apoio sobre quais providências tomar e muito importante.


6. COMO DAR A NOTÍCIA PARA CRIANÇAS:


 Fale face a face! Nunca dê notícia por telefone! Por mais que pareça uma observação desnecessária, temos visto esta prática acontecendo e deixando seqüelas terríveis no emocional das crianças.

 Com muita confiança e calma a criança deve ouvir a verdade. Assim como as crianças de hoje compreendem o mistério da vida, certamente compreenderão o mistério da morte. Numa linguagem infantil deve-se explicar que Deus precisou do papai, da mamãe ou do irmãozinho, junto a Ele. Deve-se explicar que todos nós um dia morreremos e estaremos com ele. Deve se esclarecer que este momento é estabelecido por Deus e que ninguém pode abreviar, nem atrasar o momento da partida.


 Evite falar desesperado;


 Evite detalhes mórbidos.


 Não é saudável privar a criança da cerimônia fúnebre, do choro e da despedida final. Não obstante deve-se lhe transmitir a segurança da companhia, do afeto e da presença.


 A psicóloga Diana Ducati, especialista em luto, explica que até os 3 anos a criança não tem bem estabelecida a noção de morte como algo irreversível, mas já é capaz de assimilar a ausência.


 É importante esclarecer todas as dúvidas sobre o tema à medida em que essas indagações forem surgindo.


 No caso de falecimento de algum membro da família é importante contar a verdade.


 Não esconda a situação da criança e conte a ela o que está acontecendo. Evite a negação do luto usando metáforas como: Ele foi para o céu, foi fazer uma viagem, está dormindo. A conseqüência destes atalhos são desastrosa para a criança.


 Se a criança for muito pequena para entender a situação, deixe-a com uma pessoa da família ou alguém de confiança, evitando assim colocá-la em companhia de pessoas muito abaladas com a morte.


 Se a criança já tiver capacidade de compreender e aceitar a morte (em geral 5 ou 6 anos), pergunte se ela quer se despedir do/a falecido/a e respeite a sua decisão.


 Caso a criança opte por participar dos funerais, converse com ela antes, descrevendo e explicando o que será vivenciado no local.

7. COMO LIDAR E FAZER VISITAS A ENLUTADOS:

CRIANÇAS:


Crianças em idade pré-escolar geralmente ainda não têm idéia de finitude e não entendem a morte como um fato irreversível. Ao receber a notícia de que o titio morreu, é possível que uma criança pergunte quando ele vai voltar. Se isso ocorrer, não se preocupe; diga-lhe que as pessoas que morrem não voltam. Ela poderá repetir as mesmas perguntas várias vezes até compreender e familiarizar-se com a perda. É importante explicar que seu vínculo com o falecido não terminou; apenas mudou.

Nessa fase, a criança costuma ser ainda auto-centrada, acreditando que tudo gira ao seu redor. Isso pode levá-la a sentir-se culpada, imaginando que, de alguma forma, os sentimentos negativos que possa ter tido com relação ao falecido tenha causado sua morte. Faça com que a criança tenha certeza de que nada do que ela possa ter feito ou pensado poderia provocar a morte daquele ente querido

A partir dos cinco anos, as crianças começam a compreender a morte como um fim, mas podem pensar que só ocorre com idosos ou acidentados.

Por volta dos 11 anos de idade, na pré-adolescência, a criança passa a entender a morte como parte da vida, que pode ocorrer em diferentes idades e vários motivos. Nessa fase de transição, aceitar perdas costuma ser difícil. É comum que ela queira isolar-se ou negar-se a falar sobre o assunto. Respeite sua vontade, deixando claro que você está por perto, disponível para confortá-la.


POSSÍVEIS REAÇÕES DA CRIANÇA À MORTE: 

Mesmo que não aparente, a criança pode estar sofrendo, expressando sua dor por meio de variações de comportamento, como:

- Comportamentos anti-sociais como isolamento ou agressividade excessiva;
- Atitudes de negação;
- Dores físicas;
- Medo de morrer;
- Depressão;
- Sentimento de abandono;
- Desmotivação;
- Falta ou excesso de apetite;
- Distúrbios no sono;
- Regressões (como chupar o dedo, chupetas, mamadeiras, ou molhar a cama).


COMO AJUDAR?


A criança precisa enlutar-se para poder lidar com a perda. Chore e deixe-a chorar com você. Não peça para que ela seja forte; encoraje-a expressar sentimentos de dor, raiva, tristeza.

Aceitar a morte é uma das lições mais importantes da vida; aprendam juntos, compartilhando o luto.

ADULTOS:


A. Manter contato com a pessoa, não apenas durante a crise inicial, mas especialmente no período da resolução do pesar.
B. Convidar para um almoço, café ou lanche em família.
C. Conversar com a pessoa na situação e no nível de compreensão ou sentimento em que ela se encontre, e não de acordo com aquilo que o orientador pensa ou sente.
D. Aceitar a pessoa na sua maneira de ser, pensar e sentir, mesmo que não esteja concordando com as premissas básicas da pessoa.
E. Encorajar a expressão dos sentimentos, esclarecendo-os para que a pessoa possa compreender melhor o sentimento produzido pela perda e pelo pesar.
F. Dar ênfase as opções, mostra alternativas para agir, se houver necessidade de ação.
G. Ajudar a pessoa a encarar a realidade da sua situação e refletir sobre o significado mais profundo das suas novas responsabilidade, dos novos relacionamentos, e dos novos problemas de ajustamento.
H. Conservar a pessoa em movimento ou atividades, porém não além da rapidez que ela possa alcançar.
I. Permitir que a pessoa seja dependente de orientador por algum tempo, enquanto está resolvendo o seu pesar.
J. Usar os recursos espirituais e religiosos.
K. Manter a pessoa em contato com a sua Igreja, ou comunidade.

Confortar é:


A. Empatizar com os que sofrem;
B. Levar uma palavra de esperança aos desesperados;
C. Dizer que vale a pena viver apesar das dificuldades existentes na vida;
D. Levar alguém a ter alegria de aceitar o que é e, se conformar, com o que tem;
E. Fazer uma vida feliz e ser feliz também;
F. Compartilhar o amor, a paz e realização que deus nos dá.
G. Excluir da nossa vida as palavras: Derrota e Desesperança!!!
H. Levar aos pés de Cristo, toda causa dos oprimidos, amargurados, desesperançados.
I. Compartilhar com alguém, que o sofrimento, as dificuldades da vida é um meio pelo qual crescemos em direção Deus, do próximo, e de nós mesmos.


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:


A. Bíblia Sagrada
B. Da morte e do morrer – Elizabete Kübler Ross
C. Quando passamos pelo vale do Luto – Marcos Kopesca Paraizo
D. National Cancer Institute - When people die - G Williams & J. Ross
E. del Giglio, A. A relação médico paciente sob uma perspectiva dialógica. Revista brasileira de Clínica e terapêutica.2002, 27;1: 6-8.
F. Fallowfield L, Jenkins V. Communicating sad, bad,
G. Manual Merk – Saúde para Família
H. Experiências Pessoais no Ministério Pastoral - Rev. Ednaldo Breves

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