domingo, 17 de fevereiro de 2013

VARIAÇÕES SOBRE O MINISTÉRIO PASTORAL

1) Pastor-Pastora – Um Serviço Distinto

Estamos começando um novo ano. É bom refletir sobre a natureza do nosso ministério.

Tenho dito aos/às seminaristas que encontro nas igrejas locais que é diferenciado e especial ser pastor/a. Por isso, é fundamental ser chamado e capacitado por Deus; sem isso, é impossível ser pastor/a na percepção bíblica do termo.

Nada deixa um de nós pastores/as mais aborrecido/a do que em meio a uma visita pastoral, algum amigo ou parente da família visitada, volta-se e se dirige a nós perguntando: “Além de ser pastor/a, você trabalha com o que mesmo?” Temos sempre que exercitar a longanimidade, dizendo das várias tarefas do pastor/a, mas fica um tom de ofensa no ar. Paulo, para evitar ser pesado, trabalhou, fazendo tendas, mas deixou claro quão lícito era que:

“Não sabeis vós que os que prestam serviços sagrados do próprio templo se alimentam? E quem serve ao altar do altar tira o seu sustento? Assim ordenou também o Senhor aos que pregam o evangelho que vivam do evangelho.”(1 Co 9.13-14)

Somos obrigados a viver emoções intensas entre o choro e a festa, e às vezes vivemos isso no mesmo dia. Precisamos cuidar e ser cuidados.

Há também na natureza distinta do ministério pastoral uma dimensão profética. Nós não ensinamos e pregamos para ser aprovados pelos/as homens/mulheres, visto que o sentido profético do nosso ministério nos coloca em constante confronto com interesses pessoais, pecados individuais e comunitários. Nesse sentido, o compromisso profético começa com nossas próprias escolhas.

Não dá para estarmos aliançados/as com Deus, e as autoridades postas por Ele, conforme prescreve as Escrituras, e querer desfrutar de benefícios, frutos de acordos com lideranças não santas. Sempre houve e haverá quem se acerque de nós com propostas de vantagens nem um pouco santas. Simão, o mago, é um exemplo disso em Atos dos Apóstolos (Cf. At 8.9-13). Atenção! A natureza humana decaída gosta de ouvir mentiras que amenizem sua culpa e pecado, Ou que lhe ofereçam vantagens e facilidades

Muito ainda poderia dizer sobre a natureza distinta do nosso ministério pastoral, mas preciso lembrar outras coisas prioritárias.

2) Pastor – Pastora – Homen e Mulher de Deus.

Neste tempo em que sobram religiões e Igrejas e que falta Deus, sobram também líderes religiosos, mas faltam homens e mulheres de Deus. O pastor/a que Deus quer abençoar e usar na crise atual precisa ter a coragem de ser diferente e a convicção de continuar na direção certa da Palavra, aconteça o que acontecer.” [1]

Como enviados de Deus, fazemos uma obra espiritual que pertence a Deus e é feita em nome de Deus.

Esta obra de Deus visa à salvação do povo e à formação do caráter de Deus (discipulado), na vida dos convertidos. NUNCA deve ser realizada, visando a algum lucro particular nosso. Um motivo errado alcança objetivo errado, e assim destrói um ministério de um/a servo/a de Deus. Pois devemos nos vigiar, para não estarmos nos servindo do ministério, ao invés de servir a Deus e ao povo, nosso rebanho. A abnegação, a auto-negação, é absolutamente necessária a todo cristão, especialmente ao pastor/a.

Não esqueçamos as palavras de Jesus:

“Dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; quem perder a vida por minha causa, esse a salvará.” (Lc 9.23-24)

Como pessoas é inevitável que cultivemos alguns relacionamentos mais profundos com alguns líderes da igreja que pastoreamos. Mas cuidado, pois deve ser notório que damos atenção e amor a todos, afinal, somos pastores/as de todo o rebanho.

Como João Wesley, nós somos homens e mulheres de um livro, a Bíblia. É lícito buscar outros conhecimentos. Bernardo de Claraval dizia: “Há os que adquirem conhecimentos pelo valor do conhecimento, isto é vaidade de baixo nível. Mas há os que desejam tê-lo para edificar outros – isso é amor.”[2] Cultivemos a leitura diária da Palavra, e de bons livros.

3) Pastor – Pastora – E Autoridade Espiritual.

Um dos nossos grandes desafios é que o púlpito, a cátedra pastoral, é um lugar santo. O povo olha para nós, e espera ouvir Deus falar com eles. Por isso é que recebemos de Deus autoridade e unção espiritual, para sermos usados na edificação do povo, instrução no caminho do discipulado, e envio ao mundo para a Missão. Sabendo que esta autoridade é delegada por Deus, pela Igreja e pelo Bispo no ato da nomeação, assim o exercício da autoridade se dá em submissão. Uma boa ilustração disto é João Batista: ”Respondeu João: O homem não pode receber coisa alguma se do céu não lhe for dada.“ (Jo 3.27) e ”Convém que ele cresça e que eu diminua.“ (Jo 3.30)

Mas para falar sobre este tema precisamos ouvir Paulo: “Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação.” (Rm 13.1-2)

Não tenho saída: para exercermos autoridade precisamos estar submissos à autoridade. No nosso caso, pastores/as metodistas, temos o Concílio Geral, Concílio Regional e o Bispo, de onde emanam as orientações e direcionamentos para o exercício de nosso ministério. É notório que nós não fazemos parte do rol de membros da igreja local e sim do Concílio Regional, pois ali fomos eleitos/as e ordenados/as pastores/as pelo Bispo.

Watchman Nee diz: “A maior exigência que Deus faz ao homem não é carregar a cruz, servir, ofertar ou negar a si mesmo. É a obediência.”[3]

Lúcifer se tornou Satanás quando tentou usurpar a autoridade de Deus, e quis competir com o Senhor. Assim, tornou-se adversário dEle. A queda de Satanás foi provocada pela rebeldia. Isaías 14.12-15 e também Ezequiel 28.13-17 têm sido reconhecidos na História da Igreja como descrição da queda de Satanás. Ofender a autoridade de Deus, de sua Palavra, e das que foram instituídas por Ele, abre uma brecha espiritual na vida do crente.

Como pastores/as, sofremos e vemos com frequência a rebeldia de ovelhas e o que isso resulta. Desejamos ver nosso rebanho submisso à direção e condução que lhes damos. Todos já experimentamos o desgaste de ver lideranças rebeldes que resistem e conspiram contra nossas orientações e decisões. Portanto, devemos ter muito cuidado, na nossa condição de pastores/as, para que não nos rebelemos contra as orientações de decisões do Bispo e dos Concílios Regionais e Geral. As consequências são sempre danosas sobre as nossas vidas.

A unção de Deus e sua consequente autoridade é concedida aos que têm o coração quebrantado e submisso.

Para finalizar, deixo o conselho do Apóstolo Pedro:

“Rogo igualmente aos jovens: sede submissos aos que são mais velhos; outrossim, no trato de uns com os outros, cingi-vos todos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, contudo, aos humildes concede a sua graça. Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte, lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós.” (1 Pe 5.5-7)

Que Deus renove e abençoe nosso ministério pastoral.

Bispo Paulo Lockmann


[1] Warren W. Wiersbe. – A Crise de Integridade. São Paulo: Vida, 1993. p. 100.
[2] Baxter, Richard. O Pastor Aprovado. São Paulo: P.E.S., 1989. p. 36.
[3] Nee. Watchman. Autoridade Espiritual. São Paulo: Vida, 2009. p.17.

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