sábado, 9 de dezembro de 2017

O NATAL DE WESLEY


Uma rápida olhada no Journal (Diário Público) de John Wesley é suficiente para percebermos que a maneira dele celebrar o Natal esteve em chocante contraste com o pinheirinho e o Papai Noel dos nossos dias. Escolhemos o período de 1778 a 1791, quando a Capela Nova já era a sede de Wesley em Londres e as celebrações peculiares do Metodismo já haviam tomado sua forma característica.

Veremos que os três momentos altos no Natal de Wesley, que giravam em torno da tal “Capela Nova”, sugerem uma profunda apreciação pelo sentido da encarnação de Jesus. Nessa celebração tríplice, somos levados a contemplar com gratidão a realidade de que Jesus Cristo, na sua pessoa, é plenamente divino e plenamente humano; que, para se fazer homem, para identificar-se com a nossa condição, ele se esvaziou, abdicando da honra e da glória que lhe pertenciam por direito (Filipenses 2,5); e que ele nos chama para participar, de corpo e alma, com ele, na sua missão divina.

Wesley nos fornece um excelente retrato de seu dia 25 de dezembro de 1778, no seu Journal. As atividades do dia tiveram início às 4 da madrugada, “como de costume, na Capela Nova”. A seguir, o próprio Wesley, na qualidade de presbítero da Igreja da Inglaterra, “leu orações”, ou seja, dirigiu o culto e ministrou o sacramento, na Capela da Rua Oeste (templo da Igreja da Inglaterra, arrendado por Wesley).
De tarde, ele pregou novamente na “Capela Nova, totalmente repleta em cada canto”. Ele concluiu as celebrações desse concorrido Natal, expondo a Palavra de Deus no templo anglicano do Santo Sepulcro, um dos maiores templos paroquiais de Londres e que, apesar do frio do inverno londrino, se encontrava “repleto”. Tendo completado este roteiro de celebrações, Wesley, com seus 74 anos, observou que se sentia “mais forte depois de pregar o quarto sermão do que depois do primeiro”.
Ele registrou no Journal do dia 31 de dezembro do mesmo ano: “Concluímos o velho ano com solene vigília e começamos o novo com louvor e ações de graça”. Mas, além da vigília de passagem do ano, que nunca falta no Metodismo Wesleyano, havia ainda um outro evento marcante, o “Culto da Renovação do Pacto com Deus”. A princípio, celebrava-se este culto no dia 1º de janeiro de cada ano, mas, a partir de 1786, o evento ocorria às 15 horas do primeiro domingo do novo ano.
Vejamos, no entanto, o registro do Journal do dia 2 de janeiro de 1785, quando Wesley escreveu: “Esteve presente maior número de pessoas esta noite na renovação do nosso pacto com Deus do que jamais fora visto antes em outra ocasião”. Tendo presente a idade de Wesley na ocasião (ele nasceu em 1703), um registro no dia 4 do mesmo mês e ano se torna especialmente significativo: “Nesse tempo do ano, geralmente distribuímos carvão e pão entre os pobres da sociedade. Mas entendi que agora eles precisam também de roupa. Portanto, hoje (dia 4) e nos dias seguintes, eu andei (na neve) pela cidade e mendiguei 200 libras, a fim de vestir aqueles que tinham maior necessidade”. Após esse sacrifício, ele caiu de cama, seriamente doente.
O “Natal de Wesley” incluía, portanto: o Natal propriamente dito; a Vigília de Passagem de Ano e a Renovação do Pacto com Deus, formando conjuntamente uma abençoada trindade de celebração.
Natal: Ação de Graças pela dádiva de Jesus Cristo, Deus que se fez homem, visando nossa salvação e plena humildade; Vigília: Em 31 de dezembro, a alegre recordação de um ano de bênção e proteção divina.
Renovação do Pacto: No primeiro domingo do ano novo. A celebração pelo povo metodista do chamado divino para “reformar a nação, particularmente a Igreja, e espalhar a santidade bíblica por toda a Terra”, e o resumir desse pacto por parte de cada metodista para ser co-participante de Deus em sua missão no mundo que Ele tanto amou.


Texto: Duncan A. Reily – historiador do metodismo, publicado no Mosaico – dez/1995

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