quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

CGE067/2016 - ÚLTIMA PASTORAL DO BISPO PAULO LOCKMANN - COMO COMEÇAR E TERMINAR BEM O MINISTÉRIO PASTORAL


Rio de Janeiro, 28 de dezembro de 2016.                

Aos/Às                                                

Pastores/Pastoras                                                                    

Graça e Paz!

O Evangelho para cada pessoa no Estado do Rio de Janeiro, um grupo de discipulado para cada rua, e uma igreja para cada bairro ou cidade, para alcançar 1.000.000 de discípulos até 2021.
                                                                 
1) Por que é importante começar e terminar bem o Ministério?

Examinando vidas na Bíblia nós constatamos que nem todos os grandes líderes começaram e terminaram bem. E isto é decisivo, porque revela se houve crescimento ou não no ministério, que lições nós aprendemos na caminhada, com quem aprendemos, pois ninguém cresce sem uma postura de discípulo, e sem ajuda de um ou vários discipuladores.

Consideremos Noé, foi chamado de “justo e integro entre seus contemporâneos” (Gn 6.9), mas no final de sua história tão bonita, temos um quadro desolador, o encontramos embriagado de vinho e jazia nu dentro de sua tenda (cf. Gn 9.21). Que fim trágico!

Salomão a quem citamos seus provérbios, começou muito bem, pedindo a Deus sabedoria, a Bíblia dá um belo testemunho dele: “Assim, o rei Salomão excedeu a todos os reis do mundo, tanto em riqueza como em sabedoria.” (I Rs 10.23). Mas não terminou tão bem quanto começou, o que a Bíblia diz: “Sendo já velho, suas mulheres lhe perverteram o coração para seguir outros deuses; e o seu coração não era de todo fiel para com o SENHOR, seu Deus, como fora o de Davi, seu pai.” (I Rs 11.4).

Mas houve quem começou com dificuldades, como Moisés, gago, centralizador, ao ponto de quase morrer, dele vem a primeira grande lição sobre discipulado e ministério compartilhado: “No dia seguinte, assentou-se Moisés para julgar o povo; e o povo estava em pé diante de Moisés desde a manhã até ao pôr-do-sol. Vendo, pois, o sogro de Moisés tudo o que ele fazia ao povo, disse: Que é isto que fazes ao povo? Por que te assentas só, e todo o povo está em pé diante de ti, desde a manhã até ao pôr-do-sol? Respondeu Moisés a seu sogro: É porque o povo me vem a mim para consultar a Deus; quando tem alguma questão, vem a mim, para que eu julgue entre um e outro e lhes declare os estatutos de Deus e as suas leis. O sogro de Moisés, porém, lhe disse: Não é bom o que fazes. Sem dúvida, desfalecerás, tanto tu como este povo que está contigo; pois isto é pesado demais para ti; tu só não o podes fazer. Ouve, pois, as minhas palavras; eu te aconselharei, e Deus seja contigo; representa o povo perante Deus, leva as suas causas a Deus, ensina-lhes os estatutos e as leis e faze-lhes saber o caminho em que devem andar e a obra que devem fazer. Procura dentre o povo homens capazes, tementes a Deus, homens de verdade, que aborreçam a avareza; põe-nos sobre eles por chefes de mil, chefes de cem, chefes de cinqüenta e chefes de dez; para que julguem este povo em todo tempo. Toda causa grave trarão a ti, mas toda causa pequena eles mesmos julgarão; será assim mais fácil para ti, e eles levarão a carga contigo.” (Ex 18.13-22). Esta lição com certeza deu um novo rumo à vida e ministério de Moisés, quando foram ocupar a terra ele enviou doze homens para como equipe observar a terra e trazer informe a Moisés (cf. Nm 13.17 a 14.19). Por fim, o livro de Deuteronômio termina com o seguinte testemunho sobre Moisés: “Josué, filho de Num, estava cheio do espírito de sabedoria, porquanto Moisés impôs sobre ele as mãos; assim, os filhos de Israel lhe deram ouvidos e fizeram como o SENHOR ordenara a Moisés. Nunca mais se levantou em Israel profeta algum como Moisés, com quem o SENHOR houvesse tratado face a face, no tocante a todos os sinais e maravilhas que, por mando do SENHOR, fez na terra do Egito, a Faraó, a todos os seus oficiais e a toda a sua terra; e no tocante a todas as obras de sua poderosa mão e aos grandes e terríveis feitos que operou Moisés à vista de todo o Israel.” (Dt 34.9-12). Moisés não só concluiu com êxito seu ministério como discipulou uma equipe e formou seu sucessor, Josué. O qual como vemos no livro de Josué começou e terminou muito bem seu ministério. Vamos agora aprender algo com Paulo sobre discípulos e ministério compartilhado.

2) Crescendo num Ministério Compartilhado (Fl 2.17-30)

a) Todo ministério exige esforço.

A partir do verso 17, Paulo começa a falar do seu ministério e da luta que ele enfrentava. É bom sublinhar novos aspectos do mesmo problema, que vimos no A.T., que é, o que Paulo faz aqui.

Na verdade Paulo está dizendo que ele pode vir a ser oferecido por libação, ato sacrificial ocorrido no templo, neste sentido nosso serviço torna visível o maior de todos serviços e libação, o de Jesus na cruz do Calvário. O que Paulo está dizendo é que seu ministério é uma forma de sacrifício. Neste sentido, não existe ministério sem sacrifício, doação, esvaziamento. Jesus advertiu que isto seria exigido de nós. "Se perseguiram a mim quanto mais perseguirão a vós outros". (Jo 15.20).

Paulo estava preso e sob condições bastante humilhantes, e a razão era a sua fé e seu ministério. Quantos de nós está disposto a assumir sua fé num nível igual a este, ser preso, muitas vezes chicoteado.

Analisando nestes termos, a maioria da Igreja não está preparada para o Ministério, qual seja ele. Nós estamos desejando o sucesso, como aliás, todas as pessoas na sociedade capitalista. Desde o ponto de vista desta sociedade o ministério cristão é um fracasso. As prerrogativas são dar, dar e dar. Se necessário dar a própria vida. A prerrogativa do mundo capitalista é ganhar, ganhar, e ganhar. Se necessário tomar a vida dos outros.

O difícil é quando nós queremos transformar o ministério em algo de lucro, de vantagem pessoal. Aí temos o caos instalado na Igreja, isto já aconteceu, sempre com perdas para o Reino de Deus.

Tratemos de assumir a luta, o suor, e as lágrimas do ministério, sabendo que ele não é masoquismo, ele tem compensações, mas não são as que buscamos, mas as que Deus dá livremente, quando nos encontra fiel a Ele, na prática de um ministério.

b) Ministério é alegrar-se e chorar juntos, é servimos uns aos outros.

Não existe alegria maior para um cristão do que saber qual é o seu dom espiritual e colocá-lo em prática em um ministério frutífero. Sentir as pessoas sendo abençoadas por Deus, através do seu ministério, é sem dúvida uma compensação sem igual. Todo o/a cristão/ã pode experimentá-la, pois os dons espirituais são para todos os membros e o ministério é a consequência natural do dom espiritual. Só há ministério frutífero onde há o dom do Espírito Santo. E o contrário também é verdade, só há dons do Espírito Santo onde há ministério frutífero, um não existe sem o outro, um é a evidência do outro.

Vimos que também Paulo estava se alegrando com os irmãos em Filipos, pelo progresso que haviam feito, ele sabiamente os edificava manifestando aprovação pela vida deles, quando ele diz: "...sobre o sacrifício e serviço da vossa fé, alegro-me e com todos vós me congratulo.” Demonstrando assim reconhecimento e sentindo-se parte do ministério dos irmãos. Não os tratava como inferiores, ou que só precisavam aprender, mas reconhece-se abençoado pelo serviço da fé deles. Esta postura de ministério compartilhado de fé em comunhão é que dá força ao ministério da igreja. Paulo edificava e era edificado.

Junto a isto há o compartilhar dos sentimentos, todos nós precisamos de quem chore conosco, quem nos ouça, quem se alegre conosco. Temos mais facilidade de compartilhar as horas alegres. Os irmãos em Filipos vinham assistindo a Paulo numa hora difícil, estava na prisão. E conseguia alegrar-se na prisão. Não porque gostava de sofrer, mas porque isto estreitava a relações dele com os/as irmãos/ãs de Filipos, estes irmãos e irmãs o ajudavam a sorrir. Por outro lado, porque as suas cadeias serviram de testemunho à guarda pretoriana, e assim Cristo era pregado também no cárcere.

Nossas igrejas precisam ser um espaço de compartilhamento e acolhimento de todos os que necessitam, sem discriminação. Ron Lee Davi, em seu livro, "Perdão Incondicional", cita o livro de Jerry Cook, "Aceitação e Perdão", no qual diz: "Por que as pessoas vão ao botequim da esquina, em busca de algo que a Igreja poderia oferecer?" Ele continua: "Estão procurando alguém que os ouça. Por isso, embebedam-se e contam todos os seus problemas ao garçom, ou ao amigo. Estes choram com ele e riem com ele. Lá pelas tantas dizem: Olhe já são 2 horas da madrugada, é melhor você ir para casa. Assim saem cambaleando e voltam no dia seguinte para outra dose da mesma coisa. O quê estão procurando? Estão procurando amor e aceitação. Mas não podem ir à igreja  porque a igreja não gosta de bêbados."

Devemos nos empenhar para que nossas igrejas sejam um espaço aberto à diversidade de ministérios, mas também a diversidade de pessoas. E todos se sintam amados, ouvidos e valorizados. Afinal todos foram alvos do amor de Deus em Cristo.

c) O ministério de Timóteo - Fl 2.19-24.

Nós já vimos que o ministério é uma via de duas mãos, contribuímos e recebemos. Devemos estar preparados para dar e abertos para receber dos irmãos o que Deus tem para nós.

Foi com tal propósito que Paulo informa a Igreja de Filipos que iria enviar a Timóteo, Paulo queria levar algo através de Timóteo, mas receber também informações do que Deus estava fazendo. Entre o que ia enviar, uma era a carta que estudamos, que acabou sendo levada por Epafrodito como veremos depois.

A razão pela qual Paulo podia confiar a Timóteo tão importante tarefa era os sentimentos dele. Paulo havia falado já para que tivessem o sentimento que houve em Cristo Jesus (2.5), ele volta a falar de sentimento aplicando a Timóteo, isto significa que este tinha o mesmo sentimento de Cristo, sentimento de humildade, sentimento de Servo de Deus, e não servo de si mesmo. Aliás, o complemento da frase confirma isto, por duas vezes:"...que sinceramente cuide dos vossos interesses..." Timóteo ia atender, servir o povo de Deus em Filipos. Junto a isto a frase continua e diz: "...pois todos buscam o que é seu próprio..." (Fl 2.21). Isto quer dizer que Timóteo como Cristo não fazia a sua vontade, não buscava os seus próprios interesses, mas os de Deus e dos irmãos.

Aqui está a grande virtude de Timóteo, ser servo, isto ele aprendera com Paulo.

Na Igreja nós estamos precisando aprender a ser servos uns dos outros, ao invés de nos servimos dos outros, como faz a nossa sociedade egoísta, sermos servos uns dos outros de verdade.

O servo como foi Paulo e Timóteo, tem algumas qualidades visíveis. Quero sublinhar agora apenas duas. A primeira é a sinceridade, ou seja, a vida transparente e verdadeira, seus sentimentos e motivações são conhecidos de todos. Paulo afirmou isto de Timóteo, nós podemos comprovar isto em Paulo. Será que podemos perceber isto em cada um de nós? Vivemos numa sociedade de muita mentira, onde o que vale é a aparência, não o que na verdade é, cada pessoa tenta vender uma imagem bonita e simpática, a realidade no íntimo é outra. Sinceridade é não representar, é não usar máscara, é ter sentimentos puros e amorosos com todos. A segunda é o caráter provado e aprovado. Precisamos de servos que como Timóteo tenham sido testados e aprovados, e cujos frutos falam claramente de quem ele é. Isto significa que nós devemos testar os servos e servas de Deus, Jesus deu tarefa aos discípulos, eles foram (Lc 10.12 e 17.20), realizaram e retornaram contando (relatório) o que se passara com eles. O mesmo havia feito Paulo com Timóteo. Precisamos por a prova os/as obreiros e obreiras, candidatos ao ministério da Palavra e a qualquer outro ministério, e se aprovado, os credenciamos.

d) O ministério de Epafrodito - Fl 2.25-30. Exemplo de ministério compartilhado.

Epafrodito entra nesta história, ou se desejam nesta epístola, numa mudança de planos. Marshal, H. - The Epistle to the Philippians - Epworth Commentaries - London - 1992, em seu comentário a Filipenses afirma que aqui vemos os planos humanos de Paulo e a vontade de Deus. Há duas mudanças. Inicialmente Paulo pretende enviar Timóteo, e depois ele mesmo esperava ir, e finalmente ele precisa enviar outro, que é quem de fato vai, e este é Epafrodito.

Epafrodito era de Filipos, pois fora portador em nome da igreja de Filipos de oferta a Paulo (Fl 4.18) segundo alguns comentadores um de seus pastores, porém, já servia a Paulo como auxiliar, principalmente no relacionamento com as igrejas da Macedônia, porém há pouco tempo, pois não chega ser citado no prólogo da carta como fora Timóteo (Fl 1.1).

Depois de ter servido como mensageiro de Filipos e de Paulo, havia adoecido gravemente, e a notícia correra ao ponto de Paulo saber que o povo estava preocupado com a saúde de Epafrodito. Não fora plano de Paulo enviá-lo, porém a recuperação dele da enfermidade e o seu desejo de ir e tranquilizar pessoalmente suas ovelhas em Filipos, deve ter sido a razão das mudanças de planos.

Paulo vai qualificar a pessoa de Epafrodito, e com isto nos dá alguma informação das características de um ministro aprovado como foi Epafrodito.

Começa referindo-se a Epafrodito como irmão, isto significa que este compartilhava a mesma fé e visão da obra de Paulo. Podemos dizer que quem se habilita a um ministério tem que ter uma fé audaciosa, e uma fé com visão missionária, pois o objetivo missionário é que exercita a fé. Quem não tem sonho, alvo missionário, não precisa exercitar a fé, pois não pretende chegar a lugar nenhum, contenta-se com manter, ou seguir a rotina. Ministrar em nome de Deus como Paulo e Epafrodito é entrar numa grande obra, é preparar-se para coisas extraordinárias, prodigiosas. Afinal, vamos servir ao Senhor de toda glória e poder. Paulo define como via o ministério de Epafrodito dizendo: "...honrai sempre a homens como esse..." (Fl 2.29).

Epafrodito era um cooperador de Paulo e da Igreja em geral. Podemos dizer um diácono, um servidor como Timóteo. A Igreja se ressente de cooperadores. O que significa isto? Cooperador é aquele que trabalha sem aparecer, a grande maioria gosta de ser o/a cabeça, o/a dirigente. O cooperador serve onde for necessário, da tarefa simples às complexas, ele está sempre disponível.

Epafrodito era também companheiro de lutas de Paulo. O que significa companheiro de lutas? Trata-se de amigo e irmão nas horas mais difíceis. No momento em que a morte e a prisão rondavam ao apóstolo Paulo, lá estava Epafrodito para animá-lo, consolá-lo, servir de apoio. Todos nós precisamos de um companheiro/a de lutas.

Epafrodito era também mensageiro e auxiliar nas necessidades de Paulo. Quem não tem necessidades? Todos! Porém nem todos conseguem quem os auxilie, esteja presente na hora certa. No caso descrito na carta, Epafrodito veio trazendo notícias e oferta para as necessidades de Paulo (4.18). Ao mesmo tempo Paulo precisava de um mensageiro para levar a carta, e por algum motivo Timóteo não podia ir de imediato, nem Paulo conseguira a liberdade que ele esperava, mas lá estava Epafrodito pronto, como auxiliar e mensageiro. Um verdadeiro servo. Sim, ministério compartilhado é construído numa relação de serviço mútuo.

Conclusão: 

Esta é a 348 carta pastoral que vos envio, com ela, ainda que longa, deixo a essência de alguns ensinos que recebi de Deus no decorrer dos meus 47 anos de ministério pastoral e 29 de ministério Episcopal. Rogando que o Deus que me concedeu a Graça de realizar meu ministério com tantas bênçãos, dê a cada um de vós, graça e unção para verem os frutos do vosso trabalho transformados em vidas salvas e discipuladas, com vistas a ganharmos Um Milhão de Discípulos e Discípulas.

Com amor e amizade o irmão mais velho,

Bispo Paulo Lockmann 

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